Tuesday, February 23, 2010

O regime militar do PT - a verdadeira "volta ao passado"

Seguindo a máxima (clichê) de que o melhor lugar para se esconder algo é bem diante dos olhos, aproveito a reportagem da Folha e o estouro do escândalo Telebrás do Dirceu para apontar algumas coincidências que certamente nada têm de obra do acaso.

Muito se fala sobre as posições diametralmente opostas, em linhas gerais, do PT e do Governo Lula/Dilma ao regime militar. Demonstrarei que em um nível muito central, não há distinção de idéias e visões no que tange ao desenvolvimentismo de ambos os "planos" de Governo.


Sobre o II Plano Nacional de Desenvolvimento

Em linhas gerais, obrigados a responder aos sinais de instabilidade no regime (derrotas no congresso etc), e confrontados com o primeiro choque do petróleo, decidem os generais que um mirabolante plano obejtivando a manutenção de taxas de crescimento em torno de 10% a.a. (mesmo com a crise internacional e o Brasil tendo atingido "ocupação plena" da economia), sustentado sobre endividamento externo e com objetivo de substituição de importações, seria a melhor forma de "equilibrar" a economia no longo prazo.

Numa simplificação grotesca, que me reservo o direito de fazer por não se tratar de um paper sobre economia brasileira, posso apontar agora porque o II-PND não deu certo. Embora muitos economistas defendam que existiram mais méritos que falhas quanto aos objetivos de longo prazo do PNDH-3 (ooops...), digo, II-PND, é impossível defender um plano que resulte em taxas de inflação incontroláveis por mais de 15 anos como bem sucedido.

1) O modelo de estatização adotado previa que o investimento estatal geraria a demanda que faria com que o setor privado investisse:

Ninguém contava (ou contava sim...) com o bom e velho jeitinho. No período de 74-79, foram abertas em média 200 estatais por ano, para tratar dos mais diversos assuntos. Sempre com recursos do FMI, e empréstimos contratados a taxas de juros flutuantes(!?).

Sobre os juros, bastou os Estados Unidos apertarem sua política monetária com o segundo choque do petróleo para que a dívida fosse impagável. E sobre as estatais, das 1.000 empresas abertas, restaram aproximadamente 100. Especula-se (afirma-se) que 9 entre 10 eram empresas de fachada, e serviram para engordar os cofres dos generais.

2) O investimento seria feito de forma descentralizada, de forma a diminuir as desigualdades regionais no Brasil:

Não vou me alongar muito sobre esse tema, mas cito como exemplos a siderúrgica de Itaqui (MA), prospecção de petróleo no Nordeste, Soda de Cloro em Alagoas, fertilizantes em Sergipe etc. Mais uma coincidência, sobre o crédito ofertado, a maioria do que foi dado ao setor privado partiu do BNDE, a taxas subsidiadas.

Sobre o sucesso da política de descentralização, creio não ser necessário entrar em detalhes e falar sobre a SUDENE durante todo o regime militar, sobre a indústria da seca e todos os canais de escoamento de dinheiro público pelas mãos dos "outros coronéis", mas faz uns 50 anos que a ladainha de "Vamos Descentralizar" é repetida, sem absolutamente nenhum resultado.


Os paralelos

Se a preocupação é reparar os erros dos Generais, por que o PAC (com exceção da parte sobre financiamento externo) parece tanto com o II-PND, que todos sabem no que deu?

Por que Delfim (o catastrófico economista que terminou de acelerar pra cima de 100% a.a. a inflação) está empoleirado nos ombros de Lula e de Dilma?

Por que existe tanta pressão para re-estatização generalizada, quando já vimos esse filme e sabemos aonde termina essa história?

Por que os "outros coronéis" parecem tão ou mais próximos do poder central agora do que na época do II-PND (vide Sarney, Collor, Jáder etc)?

Por que, apesar de Lula repetir "as elites" e "o povo na m****" tantas vezes, depois de quase 8 anos ainda não existe praticamente descentralização e desenvolvimento no Norte / Nordeste?

Comparando as 200 estatais por ano do II-PND com a Telebrás do Dirceu e o "pac 13%", dá pra ter uma idéia...


Conclusão

E olhando para todas essas perguntas observando o aparelhamento institucional atual, também dá para identificar o modus operandi do PT, contar mentiras deslavadas para fazer exatamente o contrário. Primeiro critica-se o regime militar exaustivamente, para depois repetir ipsis literis (falcatruas inclusive) o "desenvolvimentismo" da ditadura. De fato o modelo foi escondido bem diante dos olhos, a censura eles estão "implementando", mas o projeto da "máquina" se encontra (porcamente) em funcionamento. Que o digam a dívida pública de R$ 1,73 trilhões, Eletronet, Belo Monte e outros montes mais...

fonte: Economia Brasileira Contemporânea (Gremaud, Vasconcellos)


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UPDATE: Foi aprovada a "reativação" da Telebrás em 05 de Maio de 2010. Claro, a "Eletronet" da "Star Overseas" foi citada como parte integrante do plano. Será José Dirceu um consultor clarividente? Ou será que é porque "quando eu dou um telefonema, é UM TELEFONEMA"...

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