Tuesday, March 9, 2010

Pílula de populismo


Para quem tem o costume, a informação e a memória para juntar os pontos da grande quantidade de notícias e informações a que estamos sujeitos, as duas semanas que passaram nos mostram um pouco mais da figura populista.

A verborragia sempre maquiavélica do presidente Lula, e os entornos do seu governo (sindicatos e sociedade civil chapa-branca) vez por outra nos lançam pílulas concentradas de populismo, ilustrando o "porque" da destrutividade de governos que seguem o modelo latino-americano do Foro de São Paulo.

Simplesmente, ações estruturantes e o longo-prazo são pelo menos irrelevantes, pelo mais desinteressantes para a estrutura de poder erguida e cultivada, no caso do Brasil ao longo dos últimos 7 anos.

Quando a conjuntura permite, por fatalidade, sorte ou azar (certamente das vítimas), o jogo de ligar os pontos é completado para nós sem que ao mesmo tenhamos que raciocinar a respeito. Orlando Zapata Tamayo, morto pela própria greve de fome, leva para o túmulo um quadro perfeito do populismo latino-americano. Sua imagem é desconstruída como a de um criminoso comum pelo regime detentor do controle da mídia e opressor generalizado da população, mesmo que a UNESCO o tenha reconhecido como prisioneiro de consciência. Como bem sabemos, Lula estava lá no dia de sua morte, e a ele não fez diferença que "o povo" a quem tanto "defende", representado por um pedreiro encarcerado morrendo de fome, sucumbisse aos pés da tirania do regime.

O autoritarismo cubano, aos pés "da elite" americana, nada incomoda aos seus filhos ideológicos, que trocam a demagogia populista pelo silêncio cínico dos tiranos, dos socialistas de "nike".

Nesse ínterim, vemos de um lado o senador Tasso Jereissati (PSDB) propondo alteração no Bolsa Família, vinculando pagamento de benefício adicional ao desempenho escolar das crianças. Do outro, a senadora Ideli Salvati (PT), que faz oposição veemente ao projeto, afirmando que tal fato coloca responsabilidade nos ombros das crianças. Paralelamente, a APEOESP (órgão vinculado aa CUT) decreta greve pelo fim da remuneração proporcional ao desempenho dos professores em São Paulo (entre outras reivindicações). E fechando-se a composição, o senador Demóstenes Torres (DEM) sendo rotulado como racista por defender posição contrária ao sistema de cotas raciais nas Universidades Federais.

Como uma pílula de populismo, descrevem-se as fundações de um sistema destinado aa manutenção das desigualdades sociais no longo-prazo. Ataca-se a meritocracia de forma objetiva, e reformas ou propostas que poderiam de forma sistemática "empurrar" o sistema em direção a melhoras nos seus recursos humanos são rejeitadas como elitistas.

De volta ao maniqueísmo e maquiavelismo populista, o que se quer não é que professores capacitados e recompensados ensinem a alunos interessados, que eventualmente competirão em pé de igualdade com os filhos da classe média por vagas na universidade. O que se quer é que as camadas mais pobres do extrato social façam figuração nas escolas, cujos professores recebam por se filiarem ao sindicato, sem obrigação de ensinar nada significante. E que depois, os mesmo alunos sejam diretamente beneficados pelo governo por critérios legalmente racistas, para que sem preparo mas presenteados com vagas, retribuam sua gratidão em forma de votos.

Caminha-se, e sempre se chega ao mesmo ponto. Ser medíocre para uma administração maquiavélica nada mais é do que oferta de voto barata. Na tônica do populismo, qualquer ação estruturante pode e deve ser combatida, sempre devidamente desqualificada como elitista. E que morra de fome a oposição.

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